1. Feminismo:
A inferioridade do sexo feminino defendida por séculos e séculos de convivência humana foi discutida e revolucionada nas últimas décadas. Mulheres eram humilhadas e tratadas como o lado frágil da humanidade até que lutaram e continuam na luta, até hoje, por direitos iguais, salários iguais e tratamento igual na família e na sociedade. Acontece que tudo ainda é muito recente e muita de nós ainda tem avós (e até mães) que carregam dentro de si a diferença, são 'empregadas' dos maridos e acreditam que a mulher tem o papel de servir os homens. Nossa geração passou a infância assistindo suas ascendentes alimentando o machismo mas nos ensinando que conosco será diferente. O resultado? Toda uma geração de mulheres que ainda não sabe equilibrar seus princípios e fica na dúvida quanto as suas funções. Oferecem comidinhas para os namorados, exigem que abram as portas para elas, pedem por romantismo e proteção mas ao mesmo tempo gritam que são independentes emocionais e não precisam de um homem para trocar sua lâmpada. Neurose crônica que ainda teremos séculos de adaptação para eliminar do nosso DNA todo o "ranço" do passado. Meu receio não é conquistar espaços e sim a mulher querer ser "igual" aos homens também nos defeitos.
2. O Pai:
A nossa primeira figura masculina, geralmente, é o nosso pai. Ele nos carrega no colo, nos enche de mimos e definições de "isso é coisa de menina". O pai é o primeiro homem que tentamos agradar para testar nosso poder de manipulação. Se ele sempre cai nas nossas manhas e choros aprendemos que é dessa forma que todos os outros homens serão 'conquistados'. Se ele nos ignora e mantêm distância de conversas e conselhos aprendemos que homens vivem em outro mundo que não somos bem-vindas. A indiferença da figura do pai pode marcar para sempre nossa relação com o mundo. E isso não é uma referência freudiana mas sim uma constatação prática. Decepcionar uma mãe é triste mas sabemos que será superado numa próxima vez. Decepcionar um pai é sentir-se incapaz de ser aceita pelos homens durante nossa vida. Parece radical mas as meninas realmente tem uma ligação diferente com a figura paterna, como se fosse um longo curso onde a formatura é conseguir um relacionamento perfeito.
3. Dirigir:
A função de motorista é uma das conquistas do século passado. Inconscientemente, saber dirigir um automóvel tornou-se um símbolo da independência feminina e a ratificação de que podemos ser "igual" aos homens. Ainda hoje há o preconceito com mulheres no volante e nada mais gratificante do que uma mulher conseguir vencer este preconceito assumindo a direção. E assumindo bem. Mas muitas mulheres ainda se sentem frustradas e com medo dos comentários preconceituosos e por isso não conseguem essa etapa. Na minha época ainda rolava um pensamento "Eu tenho que aprender a dirigir para não depender de homem e ser mais respeitada". Uma vez minha avó de 84 anos comentou "Quando vejo uma mulher dirigindo sinto tanto orgulho e inveja porque queria ter nascido na época de vocês. Antigamente não podíamos porque era coisa de mulher mal vista". Pois é, agora ganhamos também essa "arma".
4. Crise dos 30:
Mais um resultado das cobranças arcaicas da sociedade. Desde o início da humanidade até meados do século passado uma mulher de 30 anos era considerada velha. Velha para estudar, velha para trabalhar, velha para conseguir um relacionamento. Com 30 anos, antigamente, toda mulher já tinha sua vida estabilizada, seja por um casamento, seja por filhos já nascidos. E décadas depois, onde as coisas têm mudado a passos de formiga e sem vontade (diria Lulu Santos), ainda sentimos essa pressão em nossos ombros. Temos 30 anos, ainda não casamos, mal temos um relacionamento estável. Não temos um emprego fixo ou mal terminamos os estudos. Sabemos que hoje uma mulher de 30 anos é jovem e ativa e pode sim começar tudo do zero. Sabemos porque dizem por aí. No fundo, aquele resto de século passado ainda grita nos nossos sonhos: Velha.
5. Crise dos 40:
Tudo que a crise dos 30 anos traz e mais alguns bônus. Chegar aos 40 anos para uma mulher é acender o farol amarelo da fertilidade. Até as mulheres mais independentes financeiramente e emocionalmente que eu conheci, aquelas que dizem nunca querer engravidar e que ter filhos é deformar o corpo e a alma, quando chegaram aos 40 anos sentiram essa ponta de dúvidas. Daqui a pouco nunca mais poderei ter filhos, é isso que eu realmente quero? E um homem ficará comigo mesmo assim? E daqui 20 ou 30 anos ficarei sozinha? Vou me importar com o que a sociedade vai me dizer? Sentirei falta de uma família? Pois é, crise do amarelo.
6. Casamento:
Desde criança fomos incentivadas a pensar neste momento como algo mágico. Como nos contos de fadas, como o Ken com a Barbie, como o príncipe que vai nos salvar da prisão do castelo da família. Não sei como funciona a criação nos dias de hoje, mas digo pela minha geração. Nem era de propósito porque era uma coisa comum. Tias, mãe, avó, primas já brincavam com o lúdico da gente perguntando com quem estávamos namorando na escolinha e com que idade queríamos casar. Nos casamentos da família víamos nossas ascendentes chorando emocionadas por este ser o momento "mais importante da vida da mulher". Víamos a noiva com aquele ar de princesa e o noivo vestido de príncipe. E crescemos ansiosas por nossa hora. E aprendemos que contos de fada não existem mas são ótimos para imaginação infantil. Algumas riem dessa lembrança e seguem em frente. Muitas outras guardam essa lembrança numa gaveta imensa dentro do coração (ou do estômago) e buscam de toda forma fazer parte dessa mágica. Ouvíamos na família que aquela tia que não casou era infeliz e solitária. E quem quer ser assim na vida? Neurose forte.
7. TPM:
Mais conhecida como "Todos os Problemas Misturados", a tpm ganhou o status de muleta universal para neuroses femininas. Se você está num dia triste, é tpm. Se você quer discutir algo que não está funcionando na sua casa, é tpm. Se você tem alguma opinião contrária, é tpm. Se você chora por uma cena, é tpm. Ninguém mais admite seus sentimentos ou encara suas ações como algo que deve ser enfrentado. A tpm virou uma desculpa das mulheres para falta de educação ou demonstração exagerada de sentimentos. A tpm virou uma desculpa para os homens não levarem a sério o que queremos e falamos. A tpm virou uma neurose coletiva e contagiosa.
8. Padrões de beleza:
Sou gorda. Sou magra. Sou baixa, sou alta. Os padrões de beleza deixaram as mulheres sequeladas. Elas mal acreditam num elogio. Morrem de medo dos espelhos e do julgamento alheio. Os homens, para ajudar, alimentam essa neurose com frases prontas que reverberam por aí sem pouco entender o quanto isso pode deixar as mulheres neuróticas. E não só os homens, todos alimentam com piadas, comentários, fotos e mídias. E o que temos hoje é um infinito número de mulheres sofrendo cirurgias, intervenções médicas, problemas sexuais e psiquiátricos pelo simples receio de não ser aceita no mundo paralelo. Digo paralelo porque aqui, no mundo real, pessoas fracassam e vencem todos os dias independentemente da sua aparência. Pessoas amam e são amadas mesmo sem peitos duros e barrigas perfeitas. Deixamos de ser submissas aos homens, à sociedade, à família, e passamos a ser submissas ao espelho?
9. Sexo:
Mais uma vez temos uma porção de migalhas trazidas dos séculos passados para a nossa vida atual. A mulher hoje tem toda a liberdade sexual que nunca teve na história da humanidade e ainda está aprendendo como lidar com isso. Foi como soltar uma criança numa loja de doces grátis pela vida inteira, provavelmente nos primeiros dias ela vai exagerar e adoecer. Pegamos a parte boa dos direitos dos homens do sexo livre e do direito ao orgasmo. Pegamos também a parte ruim dos direitos deles... Encaramos o sexo como vingança por anos de escravidão sexual. Hoje, muitas mulheres nem pensam se quererem realmente transar, mas se sentem no direito porque os homens são 'libertinos, cafajestes e insensíveis'. E lá estamos querendo direitos iguais para enganar e usar outras pessoas. Criticamos tanto e queremos o mesmo. Com um único detalhe: aquela migalha do século passado ainda te entrega, você é do sexo feminino, você tem sentimentos diferentes. E temos hoje mulheres que se relacionam cada dia com uma pessoa diferente, vendem libertação sexual, mas à noite, sozinhas nos seus quartos, reclamam porque não são valorizadas ou choram por falta de atenção. E claro, culpam os homens por serem todos iguais. Seremos também?
10. Inseguranças:
Insistem por aí a espalhar que mulheres são mais inseguras. Nunca sabem o que querem, mudam de opinião o tempo todo, sentem muito ciúmes, desconfiam sempre e precisam verbalizar todo e qualquer sentimento. Há uma neura muito grande para nos controlarmos e mostrar ao mundo que somos seguras sim em tudo que fazemos e escolhemos para nossa vida. Sentimos a obrigação de ratificar o tempo todo que não sofremos com isso e somos plenamente confiáveis para o nosso marido, nossos amigos e nosso chefe. Temos mesmo que disfarçar isso o tempo todo? Insegurança não é uma característica humana? Mudamos de opinião exatamente porque sabemos reconhecer que estávamos erradas. Experiências são ótimas para mudarmos o conceito das coisas. Ciúmes e desconfianças? Todos sentimos seja de forma velada ou exagerada. Cabe a nós o bom senso de dosar. Verbalizamos nossos sentimentos para entendê-los melhor, para organizar nossa ansiedade. Não se convença que somos mais inseguras porque todos nós, mulheres, homens, cachorrinhos e canários, temos nossos segundos para analisar melhor o próximo passo.
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