Depois de onze anos, o Largo do Arouche, zona central de São Paulo, voltará a receber a família que fez história nas noites de domingo da televisão brasileira. Os atores Miguel Falabella, Marisa Orth, Aracy Balabanian, Luiz Gustavo e Márcia Cabritta aceitaram o convite do canal “Viva” para gravar quatro novos episódios do consagrado seriado “Sai de Baixo” e reviver, respectivamente, Caco Antibes, Magda, Cassandra, Vavá e Neide Aparecida.
A nova história começa quando os moradores do Largo do Arouche recebem um convite anônimo para um jantar no apartamento onde viveram. Para a surpresa de todos, a anfitriã misteriosa é a ex-empregada Neide Aparecida, que deu a volta por cima e está muito rica. Ela comprou o antigo apartamento, que Vavá perdeu por não pagar o condomínio, e chamou os ex-patrões para ostentar. "Vou voltar rica e loira, mas claro que vão arrumar um jeito de eu voltar a ser pobre", disse Cabrita.
Com citações a Marcos Feliciano, ao preço do tomate, à ascensão da classe C, ao PEC das empregadas domésticas, à situação dos aeroportos e até aos obscuros critérios de correção da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o seriado volta mais ácido do que nunca. O ator Miguel Falabella, um dos idealizadores do projeto, lembrou claramente do desafio inicial do seriado, que era fazer um teatro filmado e realizar críticas políticas e sociais. "Havia uma total transgressão dentro da linguagem dramática, mas nunca ultrapassava os limites do bom gosto. O “Sai de baixo” é um playground, são colegas jogando uma pelada. Não é time profissional com a camisa da seleção”, comparou.
Famoso na interpretação do asqueroso burguês Caco Antibes, marcado pelo bordão “Eu tenho horror a pobre”, Falabella falou como o personagem estaria 11 anos depois. "Coitado do Caco (risos). Ele deve estar apavorado. Imagina o Caco nos aeroportos? Na verdade, o Caco ficou 11 anos na Dinamarca, e a Magda ficou perdida no Aeroporto de Cumbica, que nem aquele personagem do Tom Hanks [no filme 'O terminal']", brincou.
Na formação do hilário casal Caco e Magda, Falabella contou com a ajuda imprescindível da atriz Marisa Orth, que até hoje ouve nas ruas o marcante “Cala a boca, Magda”. "Essas frases não foram pensados como bordões, eles foram acontecendo. E as pessoas foram repetindo na rua. Eu lembro que falei assim com Marisa: 'Vamos fazer um casal que transa muito, porque brasileiro adora isso’”, relembrou.
Marisa, por sua vez, sempre conviveu com as críticas de sua personagem, uma mulher usada sexualmente pelo marido e nitidamente burra. "Tem gente que não possui discernimento pra ver que eu, Marisa, estou ali em um papel, sendo usada para fazer uma critica com humor. Eu dizia para o Miguel que ele ia ofender os pobres, e ele argumentava que pobre não gosta de ser pobre. Aquilo era uma crítica à condição miserável e às disparidades do País”. Miguel, concordando com a colega, completa a defesa ao texto do seriado. “Falo daquilo que conheço. Eu vivi isso em casa. Falo com afeto, apesar do Caco ser agressivo”.
Ao contrário da dupla, Aracy Balabanian era uma das únicas do elenco que nunca tinha feito comédia e relembra os apuros que passou no palco. ”Eu tinha formação dramática e no início eu não conseguia me controlar, tinha riso frouxo. Então nas primeiras semanas pedi ao diretor para sair, disse 'eu não sei fazer isso, faço um esforço brutal para não rir'. Ele me deixou rir. Mesmo assim continuo não sabendo fazer até hoje", admite.
Com 79 anos, o ator Luis Gustavo pondera a expectativa em voltar aos palcos do Teatro Procópio Ferreira com o avanço da idade. “É uma emoção fazer o mesmo personagem. Já tinha tido a experiência revivendo o Mário Fofoca em 'Tititi'. O Falabella disse que a gente brinca muito, que somos amigos jogando uma pelada. Só que agora é uma pelada mais acentuada, porque está todo mundo velho e gordo. Eu, por exemplo, não fico mais de 20 minutos em pé, terei de dar meus convites pra equipe médica: cardiologista, ortopedista...", brincou.
O “Sai de Baixo” reestréia dia 11 de junho, no Canal Viva, às 20h30 com participações especiais de Tony Ramos e Ingrid Guimarães.
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